Por, Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld.
As profecias atribuídas a São Malaquias († 1148) preveem o fim do Papado e do mundo. Este artigo analisa tais presságios.
Elas são, conforme seus divulgadores, de autoria de Malaquias, monge do mosteiro de Bangor, arcebispo de Armagh, canonizado, em 1190, pelo Papa Clemente III. Suas previsões teriam sido escritas quando o monge esteve, por um mês, em Roma, no ano de 1139. Consta de 111 – ou 113, segundo outros – dísticos latinos que tentam retratar cada Papa; de Celestino II (1143-1144) ao presumido Pedro II, o último Papa, que governaria a Igreja até o fim do mundo.
Note-se, logo, que não foi o próprio São Malaquias quem divulgou tais profecias no século XII. Elas só apareceram em 1595, fim do século XVI, na obra Lignum Vitae, ornamentum et decus Ecclesiae, do beneditino belga Arnoldo de Wyon. Delas, as primeiras 74 vêm acompanhadas de breve comentário de Afonso Chacón (cerca de † 1601), frade dominicano e historiador espanhol. Demonstra ele que as previsões se cumpriram de modo exato em cada Papa citado. Assim, sobre Vítor IV a profecia diz: Ex tetro carcere (Do cárcere escuro), ao que acrescenta Chacón: Fuit cardinalis S. Nicolai in carcere Tulliano (Foi cardeal de São Nicolau no cárcere Túlio).
Pois bem, pelos comentários de Afonso Chacón seria possível calcular o último Papa e o fim do mundo: após João Paulo II (De labore solis), ainda haveria três pontífices: Bento XVI, Francisco e mais um que assumiria o nome de Pedro II. Sobre ele está escrito: Petrus Romanus, qui pascet oves in multis tribulationibus; quibus transactis, civitas septicollis diruetur, et ludex tremendus iudicabit populum. Finis (Pedro Romano, que apascentará as ovelhas em meio a muitas tribulações. Passadas estas, será destruída a cidade das sete colinas e o tremendo Juiz julgará o seu povo. Fim)”. Que dizer?
O primeiro grande ponto é que as chamadas “Profecias de São Malaquias” se inserem no quadro das revelações particulares: o fiel católico é, portanto, livre para aceitá-las ou não (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 66-68). Há, dentro desta liberdade, quem lhes dê crédito, pois julga que deram certo. Por exemplo, Crux de crucem (Cruz vinda da cruz) refere-se a Pio IX (1846-1878). Ora, ele muito sofreu – carregou a cruz – ataques da Casa de Savoia, em cujo emblema havia uma cruz.
Todavia, bons estudiosos recusam as profecias. O maior desses críticos é o Pe. Ménestrier, S.J., com seu livro Réfutation des Prophéties faussement attribuées à S. Malachie sur les élections des Papes (Paris, 1689). Argumenta o jesuíta que: 1) por 450 anos tal profecia não foi conhecida. Nenhum historiador medieval ou renascentista, ao tratar da vida dos Papas, a cita; 2) não há uma linha confiável que demonstre como Chacón a conheceu e a passou a Arnoldo de Wyon; 3) na lista, não aparecem só Papas, mas também antipapas (Vítor IV, 1159-64; Nicolau V, 1328-30; Clemente VII, 1378-94). Ora, seria blasfêmia dizer que Deus teria confundido Papas e antipapas; 4) a insinuação da data do fim do mundo para o próximo Papa, depois de Francisco, contraria a Sagrada Escritura que não revela aos homens a data do Juízo Final (cf. Mt 24,36; Mc 13,32; At 1,7); 5) as profecias são claras até Urbano VII, depois ficam genéricas (varão religioso; fogo ardente; fé intrépida etc.) e servem, por conseguinte, a qualquer Papa digno; 6) conclui, pois, Ménestrier que as predições devem ter sido criadas em 1590 e atribuídas falsamente a São Malaquias (cf. Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Fim do mundo? A profecia de São Malaquias. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, opúsculo 39).
Ao ler este artigo, somos convidados a deixar de lado as curiosidades humanas e a redobrar a confiança no Pai celeste que cuida da sua Igreja (cf. Mt 16,18) até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20).
Por, Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld.