Repórter Jota Anderson
Quando falamos de segurança pública, quase que invariavelmente, o assunto câmeras corporais domina os debates. São muitos os “especialistas” e autoridades que colocam tal uso, por parte dos integrantes das forças de segurança, como a solução mágica para o controle da criminalidade.
Não se pretende, aqui, entrar na seara dos aspectos técnicos, mas sim fazer uma abordagem contextual com o objetivo de alertar a sociedade de bem quanto ao discurso enganoso que visa, na melhor das hipóteses, disfarçar a incompetência do aparelho estatal em cumprir a missão de levar segurança às pessoas.
Seria, é certo, um equívoco afirmar que as forças de segurança não cometem erros, principalmente porque estas instituições são criações humanas, portanto compostas por seres humanos que, obviamente, são imperfeitos. Porém, é no mínimo curioso que, quando outras categorias profissionais são expostas por seus erros, não se cogita colocar câmeras em toda aquela classe profissional. Quando médicos são acusados de abuso sexual, não vemos pedidos para instalação de câmeras nos consultórios ou nos próprios médicos. Quando professores são acusados de agressão, nem se cogita colocar câmeras em salas de aula ou mesmo nos professores. Quando há denúncias de juízes vendendo sentenças, ninguém ousa sugerir a colocação de câmeras nos gabinetes ou nos próprios magistrados...
Trazemos apenas alguns exemplos de profissionais que atuam nos direitos mais fundamentais do ser humano, mas que não recebem o mesmo “julgamento” – em especial de grande parte da mídia e dos “especialistas” – que um policial. O problema da segurança pública é incrivelmente complexo e vai muito além do simples trabalho policial, apesar de este ser o mais visível por parte da população, sendo que a maioria dos envolvidos pouco ou nunca saem das sombras. Citemos ainda como exemplo os legisladores, o sistema judicial (Judiciário, Ministério Público), as administrações municipais, o sistema carcerário etc. Obrigar o uso de câmeras nos policiais, como única forma de combate à criminalidade, é criar uma distração, é desviar o foco das verdadeiras soluções, e, pior, é demonizar a figura daqueles que, diuturnamente, oferecem suas vidas, se necessário for, na proteção da sociedade. Sociedade, via de regra, ingrata para com este sacrifício.
Esta atitude só enfraquece as instituições realmente atuantes, mesmo com severas limitações, na proteção das pessoas de bem, realizando não só suas atribuições, mas as de tantos outros órgãos que falham. Prova disso são as incontáveis ocorrências de cunho social atendidas todos os dias. Elas vão desde “aconselhamento psicológico” até a realização de partos. A pergunta que deve, portanto, ser feita, por parte da população, consumidora das manchetes sensacionalistas veiculadas pela mídia todos os dias, é: A quem interessa acabar com a Polícia? Afinal, o crime tem se moldado aos novos padrões da sociedade e usa do “canto da sereia”, através de formadores de opinião, para se fortalecer e atingir quem a ele se contrapõe; isto é, as forças de segurança.
Prova disto foi a recente comprovação de que o crime organizado se vale de ONGs, com dinheiro público, para a criação de movimentos populares em favor da criminalidade. Para você, cidadão de bem, fica o aviso: é hora de posicionar-se a favor do correto, sob pena de sua omissão levar à perda do último escudo entre a civilidade e a barbárie.
Luiz Roberto Moraes, Tenente Coronel Reserva da PMESP. Mestre em Ciências Policiais e da Ordem Pública.